Ministro diz que acionou PF por quebra de confidencialidade de pré-testes: entenda a polêmica que anulou questões e saiba como o Enem é feito
19/11/2025
(Foto: Reprodução) Live antecipou questões do Enem; 3 foram anuladas
O ministro da Educação, Camilo Santana, disse na terça-feira (18) que a Polícia Federal foi acionada no caso da anulação de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025 para investigar uma possível quebra de confidencialidade dos pré-testes do exame. As declarações foram dadas em entrevista à TV Verdes Mares, do Ceará.
"Nós acionamos a Polícia Federal porque as pessoas que fazem esse pré-teste não podem [divulgar o conteúdo], tem questão de confidencialidade", afirmou Santana.
Questionado sobre o tema, o ministro da Educação não deu detalhes sobre qual prova há suspeita de quebra de confidencialidade. O MEC alega a necessidade de "segurança da elaboração" do Enem.
Quando perguntado se os estudantes que participam da testagem assinam algum termo de confidencialidade para garantir o sigilo das questões, o ministro declarou que "eles não sabem que estão fazendo o pré-teste."
Nas redes sociais, Edcley Teixeira, o estudante de medicina envolvido na polêmica, afirmou, entre outros pontos, que memorizou perguntas da prova do Prêmio CAPES Talento Universitário. Ele diz que questões dessa prova são posteriormente usadas no Enem.
"Você não assina nada. É um prêmio completamente normal", disse ele no Instagram, sobre a hipótese de quebra de confidencialidade.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) não confirmou qualquer associação entre esses dois exames.
Origem da polêmica e medo de vazamento
Cinco dias antes da segunda etapa do Enem, uma live feita por Edcley Teixeira exibiu ao menos cinco questões quase iguais às da avaliação oficial. Após a repercussão do material nas redes sociais, o Inep decidiu anular três questões do Enem 2025.
Edcley vende serviços de mentoria para vestibulandos e, em publicações nas redes sociais, afirma que não teve acesso a nenhum material sigiloso e que conseguiu “prever” as perguntas utilizando apenas métodos legais
Segundo ele, uma das técnicas usadas na "adivinhação" foi memorizar as perguntas do Prêmio CAPES, uma prova opcional aplicada em concurso para estudantes do 1º ano de graduações, na qual ele participou
Ele teria descoberto que essas perguntas serviriam como pré-teste para integrarem futuras edições do Enem.
Em comunicado, o Inep garante que os protocolos de segurança foram cumpridos em todas as etapas do Enem 2025 e aponta "similaridades pontuais entre os itens", destacando que nenhuma questão é idêntica à apresentada na prova.
A nota afirma também que a investigação da PF deve "apurar a conduta e autoria na divulgação das questões e garantir a responsabilização dos envolvidos por eventual quebra de confidencialidade ou ato de má-fé pela divulgação de questões sigilosas de forma indevida".
Live de Edcley mostra questão sobre parcelamento
Reprodução
Como as questões do Enem são criadas
As questões que integram cada edição do Enem são extraídas do Banco Nacional de Itens (BNI), que reúne milhares de questões. A manutenção desse banco depende da entrada contínua de novos itens válidos e de boa qualidade.
O Inep detalha esse processo no guia "Entenda sua nota", divulgado em 2021, em que descreve três etapas principais para alimentar o BNI:
Elaboração dos itens: feita por educadores e pesquisadores credenciados em um Banco de Colaboradores por chamadas públicas;
Validação pedagógica: especialistas avaliam se o item está alinhado à matriz de referência e às habilidades cobradas;
Pré-testagem: questões são aplicadas a uma população semelhante à que fará o Enem.
O que são os pré-testes do Enem?
A fim de avaliar se as questões elaboradas são apropriadas e medir o grau de dificuldade de cada uma, o Inep realiza pré-testagens de novos exercícios "em uma população similar à população que fará a prova do Enem".
"Por meio dessa análise, é possível verificar os itens com desempenho apropriado e os itens que devem ser reelaborados ou eliminados das futuras versões da prova. O objetivo central da pré-testagem é a melhoria dos itens e, consequentemente, a melhoria dos instrumentos e das inferências", afirma o Inep.
Uma série de análises estatísticas e pedagógicas, feitas a partir das respostas dos alunos, medem aspectos como a dificuldade do item, a capacidade de discriminação e a possibilidade de acerto ao acaso.
Diferente do que afirma Edcley Teixeira, não há qualquer confirmação oficial de que o Prêmio CAPES Talento Universitário seja utilizado como de pré-testagem de questões do BNI.
Processo de construção da prova do Enem.
Inep
Como as provas do Enem são montadas?
Apenas itens que atenderem aos critérios exigidos são elegíveis para entrar no BNI, depois de pré-testados e validados. Os demais itens são descartados ou encaminhados para reformulação.
As montagem da prova, que apresenta 180 questões em cada ano, considera:
índices psicométricos obtidos no pré-teste;
conteúdos e habilidades da matriz de referência;
equilíbrio entre áreas e temas.
É aqui que entra a Teoria de Resposta ao Item (TRI), modelo usado para a correção das provas objetivas do Enem e a consequente pontuação do estudante – já que ela não considera somente a quantidade bruta de acertos, mas também quais itens o aluno acertou.
Enem: como funciona a TRI? Por que duas pessoas com acertos iguais tiram notas diferentes?
A TRI também orienta a seleção do conjunto de questões que forma cada exame. No Brasil, ela é usada desde 1995 nas provas do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
Sua adoção pelo Enem visa, dentre outros aspectos, garantir a comparação entre notas de diferentes edições, por assegurar equivalência.
"O Enem utiliza a Teoria da Resposta ao Item (TRI) para apuração de seus resultados. A metodologia demanda que os itens sejam pré-testados. Os estudantes que participam de pré-testes têm contato com itens que podem vir a compor o Enem em alguma edição", destacou o Inep em nota, na terça (18).
O que Edcley diz sobre suas previsões
Além de memorizar questões do Prêmio CAPES, Edcley afirma que identificou membros do Banco de Colaboradores, credenciados a partir de chamadas públicas. Com isso, estudou autores de artigos científicos que elaboram ou revisam itens do Enem.
Edcley também diz que desenvolveu um “algoritmo” próprio capaz de identificar padrões de formulação das perguntas. Ele sustenta que todo seu método seria “legal” e que sua intenção seria democratizar o acesso à prova.
Não há confirmação de nenhuma das conexões sugeridas por ele.
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